A bunda apareceu em dois momentos aqui no blog (sem trocadilho). No texto ela desfila em português e francês (derrière). Na imagem ela surge no foco de Barack Obama, conforme denunciado pela flagrante fotografia. Foi então que surgiu nos bastidores – do blog, é bom que se diga – um questionamento se a palavra bunda é ou não é palavrão.
Esclareço! A questão foi posta, a discussão se estendeu, perscrutou-se a gramática e a etimologia, e chegou-se à conclusão democrática de que bunda não é palavrão. Digo democrática porque esse entendimento não foi unânime. Houve quem discordasse. Argumentei que o ilustre, respeitado e tímido poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade havia publicado um poema inteirinho dedicado a ela, a bunda. Portanto, não deve ser palavrão. Houve dúvidas, justificáveis, sobre a existência do tal poema. Apresentei então o dito cujo, assinado por Sua Excelência, o Poeta. Muito embora o livro, onde o poema se encontra, por solicitação do próprio Drummond, tenha sido publicado após sua morte.
E a discussão prosseguiu. Pois existem alguns monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos que já nasceram palavrão, não dá para disfarçar. Há outros que isoladamente não o são, mas, dependendo do contexto e do sentido da oração ou, principalmente, quando precedidos de um verbo e um artigo definido são impublicáveis. Geralmente são obscenidades, coisas obscenas, ou que descrevem atos obscenos. Coisas que não devem ser expostas em público, e assim por diante. A bunda em si não é obscena. Ao contrário. Aquelas que podem ser apresentadas, geralmente são belas, sensuais. E a sensualidade não é obscena.
Mas o fato é que não se chegou a um consenso definitivo sobre a palavra bunda. Se ela é ou não é um palavrão. Há quem continue considerando que sim, um pouco mais leve, mais ainda assim um palavrão. Não daqueles cabeludos, embora o objeto bunda tenha pelos e apelos.
Com a palavra, as autoridades:
Dr. AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA não indica conotação chula para a palavra bunda no Dicionário (Nova Fronteira, 1999, 3. ed.):
Bunda(1). [Do quimbundo mbunda.] S. f. 1. As nádegas. 2. A parte carnosa do corpo formado pelas nádegas. Bunda(2). Relativo a bundo. Indivíduos indígenas bantos de Angola.
Agora, Sua Excelência o Poeta CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, em:
A bunda, que engraçada (*)
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Esclareço! A questão foi posta, a discussão se estendeu, perscrutou-se a gramática e a etimologia, e chegou-se à conclusão democrática de que bunda não é palavrão. Digo democrática porque esse entendimento não foi unânime. Houve quem discordasse. Argumentei que o ilustre, respeitado e tímido poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade havia publicado um poema inteirinho dedicado a ela, a bunda. Portanto, não deve ser palavrão. Houve dúvidas, justificáveis, sobre a existência do tal poema. Apresentei então o dito cujo, assinado por Sua Excelência, o Poeta. Muito embora o livro, onde o poema se encontra, por solicitação do próprio Drummond, tenha sido publicado após sua morte.
E a discussão prosseguiu. Pois existem alguns monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos que já nasceram palavrão, não dá para disfarçar. Há outros que isoladamente não o são, mas, dependendo do contexto e do sentido da oração ou, principalmente, quando precedidos de um verbo e um artigo definido são impublicáveis. Geralmente são obscenidades, coisas obscenas, ou que descrevem atos obscenos. Coisas que não devem ser expostas em público, e assim por diante. A bunda em si não é obscena. Ao contrário. Aquelas que podem ser apresentadas, geralmente são belas, sensuais. E a sensualidade não é obscena.
Mas o fato é que não se chegou a um consenso definitivo sobre a palavra bunda. Se ela é ou não é um palavrão. Há quem continue considerando que sim, um pouco mais leve, mais ainda assim um palavrão. Não daqueles cabeludos, embora o objeto bunda tenha pelos e apelos.
Com a palavra, as autoridades:
Dr. AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA não indica conotação chula para a palavra bunda no Dicionário (Nova Fronteira, 1999, 3. ed.):
Bunda(1). [Do quimbundo mbunda.] S. f. 1. As nádegas. 2. A parte carnosa do corpo formado pelas nádegas. Bunda(2). Relativo a bundo. Indivíduos indígenas bantos de Angola.
Agora, Sua Excelência o Poeta CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, em:
A bunda, que engraçada (*)
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.
(*) Poema extraído do livro O Amor Natural, de Carlos Drummond de Andrade (Record, 1992). Livro finalizado em meados dos anos 70 e publicado, por solicitação do autor, após sua morte – antes disso, alguns poemas foram publicados isoladamente em revistas, mas CDA evitava publicar o livro.
Enfim, tirem suas próprias conclusões, pois ainda não chegamos a um consenso definitivo sobre a matéria.
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