sexta-feira, 21 de agosto de 2009

20 anos Sem Raul, O Maluco Beleza

Por Elton Valente

Faz vinte anos, neste 21 de agosto, que Raulzito se metamorfoseou para outras bandas, ou, mais precisamente, pagou sua conta com a "Geofagia"

Raul é, sem dúvida, um dos maiores artista da cultura musical brasileira. Crítico bem humorado, irônico, e, ao contrário do emblemático “maluco beleza”, era muito vivo, lúcido, culto e, obviamente, talentoso. Suas canções conseguiam agradar a todas as classes sociais. Era também um anarquista histórico e romântico.

Eu curto Raul desde seu primeiro sucesso nacional, o LP “Krig-ha, bandolo!” (Phillips, 1973), ouvia-o pelas ondas de um velho rádio AM. Apresentava-se ali, para mim, o primeiro grande Professor que tive. No velho rádio eu ouvia também, à mesma época, o impagável “Secos & Molhados”, naquela efervescência do início dos anos 70.

Em seu primeiro trabalho solo, de 1973, Raul já mostrou a que vinha. Talvez seja este o seu trabalho mais emblemático, no sentido autobiográfico.

Em minha avaliação, seu maior e melhor parceiro foi Cláudio Roberto Andrade de Azevedo, co-autor de “Maluco Beleza” e diversas canções impagáveis, como aquelas do LP “Abre-te Sésamo” (CBS, 1980) e tantas outras. O parceiro mais midiático foi Paulo Coelho que, em minha avaliação, beneficiou-se muito mais desta parceria do que o próprio Raul.

Raul, em 1976, cantou a própria morte em “Canto Para Minha Morte”, um tango piazzolesco de primeira. Piazzolla também tem o seu “Balada Para Mi Muerte”, que inspirou Raul.

Fica aqui, no Tateando Amarras, esta homenagem ao saudoso e genial roqueiro, filósofo bem humorado, anarquista histórico e romântico, guru de algumas gerações e ator, como ele mesmo dizia: “sou tão bom ator que finjo ser cantor e compositor e todo mundo acredita, ‘neguinho’ cai nessa, bicho!”, e dava boas risadas!



Imagem obtida em: alemdacurva

sábado, 15 de agosto de 2009

Woodstock 40 anos

O Festival de Woodstock completa 40 anos neste sábado. Foi realizado nos arredores de Nova York entre 15 e 18 de agosto de 1969, num tempo em que o uso de drogas tinha um viés romântico e ainda não remetia aos gravíssimos problemas sociais de hoje. Woodstock é, talvez, o mais emblemático exemplo do que a confraternização humana é capaz, quando se busca o amor, “o amor sob vontade” como dizia Raulzito a respeito de sua “Sociedade Alternativa”, numa citação de Crowley.

Woodstock reuniu meio milhão de pessoas, superando em muito o número de participantes esperados para o evento. Depreende-se deste fato todos os problemas de logística que isso acarretou. O caos era inevitável. Daí a surpresa, pois diante das dificuldades e, numa sobreposição de circunstâncias, as autoridades foram tolerantes e as pessoas compartilharam tudo o que tinham, os moradores locais davam comida e os problemas foram se resolvendo no maior exemplo da confraternização hippie de que o mundo tem notícia. Não houve problemas graves, exceto por duas mortes relacionadas ao uso excessivo de drogas.

Embora contasse com um elenco de artistas como Jimi Hendrix, Creedence, Janis Joplin, Joe Cocker, The Who, John Sebastian, Joan Baez, Santana, The Band, entre outros famosos, o festival destacou-se pelas circunstâncias imprevisíveis e pelo exemplo de harmonia social que mostrou ao mundo.

Woodstock é talvez o maior exemplo de que com amor, sem os grilhões dos valores materiais, é possível salvar o mundo e o homem, sobretudo dele mesmo.

Imagem 1: screenhead

Imagem 2: shellyrusten

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A lei antifumo, a política no Brasil e a carência de Estadistas

Os idealizadores desse blog não têm ideologias político-partidárias, religiosas ou outras quaisquer. Nossa preocupação política é com o estado de direito, com a democracia, com o fortalecimento das instituições democráticas e o respeito à Constituição.

Entrou em vigor a “lei antifumo” em São Paulo, projeto do atual Governador José Serra. Veja aqui.

O Governo de São Paulo transformou em potenciais contraventores os fumantes e os donos de estabelecimentos comerciais que permitirem o uso de cigarro em suas dependências. As restrições para o uso de cigarros em repartições públicas já é contemplado por legislação de âmbito nacional.

Pergunta-se: o que o Governo de são Paulo tem feito para resolver o problema da cracolândia? Porque José Serra não dispensa o mesmo empenho para resolver a questão das drogas em relação ao narcotráfico? E aqui incluímos outros problemas crônicos de qualquer Estado Brasileiro: A educação, a segurança pública, o atendimento no SUS, a infra-estrutura, a reforma política – com punição exemplar aos corruptos; problemas urgentes que são a verdadeira “doença” do Brasil e não vemos ninguém tratando destes assuntos de forma efetiva e concreta.

José Serra qualificou de “espíritos de porco” aqueles que são contra a sua lei. José Serra é um potencial candidato à Presidência da República. Do outro lado a candidata do governo é a ex-guerrilheira Dilma, que tem o currículo que todos conhecem. Lembrando que no Sistema Lattes e na página da Casa Civil o currículo de Dilma dizia que ela tinha uma formação acadêmica que ela não tem na realidade, o que foi corrigido depois de denúncias.

O Brasil sempre foi carente de estadistas no governo. Só consigo contar três governantes com esse perfil em toda a história brasileira, não vou citá-los para não desviar o foco. Fora do governo devem existir outros, mas no momento eu me lembro de apenas dois: Joaquim Nabuco e Rui Barbosa.

Ao qualificar de “espíritos de porco” aqueles que são contra sua lei, José Serra demonstra como trata aqueles que discordam de suas idéias. Eu tenho medo de gente autoritária no poder ou agregada ao poder. Em minha juventude eu vi o General Newton Cruz, potencial sucessor de Figueiredo, esbofetear um repórter na Rampa do Palácio do Planalto nos anos 80 – as principais emissoras de TV têm isso gravado em seus arquivos.

José Serra e Dilma já demonstraram, em mais de uma oportunidade, que são pessoas autoritárias, que não têm tolerância com aqueles que discordam de suas idéias. Gente com esse perfil psicológico é perigosa no poder.

Precisamos urgentemente de ESTADISTAS para governar o Brasil.

Em nossa avaliação, e cremos que na avaliação de muitos, a lei antifumo de São Paulo é discriminatória e antidemocrática, além de inútil. E ainda desvia recursos e atenção do Estado para problemas alheios às questões prioritárias de qualquer governo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hiroshima e Nagazaki

Por Elton Valente

No dia 6 de agosto de 1945 a cidade de Hiroshima, no Japão, foi arrasada por uma bomba atômica, lançada pelos Estados Unidos da América.

No dia 9 seguinte, foi a vez de Nagazaki. Algumas estimativas dão conta de mais de 300.000 o número de pessoas que foram mortas ou feridas.

Em 15 de agosto de 1945, o Império do Japão anunciou sua rendição incondicional na II Grande Guerra.

Os atentados terroristas, que o mundo começou a experimentar a partir dos anos 70, incluindo-se aí o 11 de setembro do World Trade Center, por mais absurdos que possam ser, e o são, não chegam aos pés do 6 e 9 de agosto de Hiroshima e Nagazaki.

A bomba foi lançada sobre Hiroshima no começo da manhã, às 08h45min daquele fatídico 6 de agosto.

Neste fim de tarde, de 6 de agosto de 2009, pensando no quão terrível foi aquela noite, e os dias e noites que se sucederam, o Tateando Amarras convida todos a refletir sobre tudo isso. E fazendo jus ao viés poético deste blog, entregamos a palavra para Sua Excelência o Poeta Vinícius de Moraes, lembrando que este poema foi musicado por Gerson Conrad, integrante da banda Secos & Molhados, e gravado no álbum de estréia do grupo, pela gravadora Continental, em 1973. O poema e a música compõem uma trilha sonora triste, mas sublime, fundamental e necessária:

Rosa de Hiroshima
(Vinícius de Moraes)

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada


Imagem da explosão da bomba sobre Nagazaki

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os Dinossauros e Deus

Por Elton Valente

Nota: este texto foi publicado originalmente no blog Geófagos em 10/01/2009. Agora, com a vinda de Dawkins ao Brasil (Pirenópolis e FLIP 2009), muito se discutiu sobre o tema, então resolvi resgatá-lo, pois estou trabalhando um texto novo sobre o assunto.

A ciência vive de idéias e fatos, a cultura universal vive de idéias e fatos. O problema surge quando os fatos são manipulados e as idéias viram dogmas. Na seqüência, vem o encabrestamento dos homens e de sua capacidade de pensar e questionar o mundo que os cerca. Quem discorda das convenções sempre enfrenta o Tribunal do Santo Ofício.

Tudo bem que se acredite no Criacionismo. O absurdo é tentar impor sua aplicação como disciplina nas escolas. Pior, às vezes ele vem como plataforma política. Vide o governo Bush (2001-2009), seus simpatizantes e alguns outros exemplos mundo afora.

Para os criacionistas Deus criou o mundo e tudo o que nele há. O relato absoluto desta epopéia é a Bíblia, escrita pelos homens, mas por inspiração e ordem expressas do Criador. Contando-se as gerações regressivas de Cristo até Adão, chega-se ao surpreendente cálculo de que o mundo, ou o universo, foi criado por Deus cerca de 5.000 a 6.000 anos atrás – estes são números oficiais. Alguns “criacionistas modernos” tentam empurrar “a data da criação” para cerca de 10.000 anos. Mas o fato é que antes disso não havia nada. “No princípio era o abismo e a escuridão” (Gênesis: 1).

Aos criacionistas uma questão simples e objetiva: por que a Bíblia não fala dos dinossauros? Ela não traz o relato absoluto, fiel e acabado da obra do Criador?

Existe uma resposta lapidar para esta questão. A pergunta e a resposta não são minhas. Tomei-as emprestadas de dois grandes amigos meus que pediram para permanecerem anônimos. Certa vez, não faz muito tempo, estávamos na casa de um deles em uma festa de fim de ano. Havíamos bebido alguma cerveja, é bom que se diga. Lá pelas tantas, um deles, o mais religioso, diga-se, questionou: — Por que a Bíblia não fala dos dinossauros, ela não deveria falar de tudo o que existe no mundo? O outro respondeu: — É porque os dinossauros são de antes de Deus!

Uma sábia resposta para uma oportuna pergunta! Gostei tanto que guardei-as em minhas anotações. E agora faço um resgate delas.

É curioso como muitas vezes é difícil enxergar o óbvio. O homem criou Deus no momento em que começou a pensar nele, criando assim o conceito de divindade. A Bíblia foi escrita depois, e muito antes do homem tomar conhecimento da existência dos Dinos, portanto eles não poderiam estar lá. Observe que você encontra na Bíblia o trigo, a uva, a oliveira, a ovelha, o camelo, a base da economia do Oriente Médio bíblico, mas não encontra o milho, a batata, o cacau, o amendoim e a lhama, produtos típicos do Novo Mundo, da América Pré-Colombiana no período equivalente. É simples, Deus na Bíblia só sabe daquilo que o homem sabia.

Enxergar o óbvio quando se trata de religião é ainda pior, fomos criados por nossos pais, pelo menos a maioria de nós, com Deus sempre presente, à espreita, vigiando, ameaçando, “vendo fazer tudo que se faz dentro do banheiro” (Raul Seixas em Paranóia), aí fica difícil para muita gente imaginar-se sem Deus, imaginar o mundo sem Deus. O medo às vezes é tanto que alguns nem cogitam pensar no assunto. E assim caminha a humanidade, em círculos, na velha caverna de Platão.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Minhas Andanças Por Este Brasilão Imenso


Por Elton Valente

Em minhas andanças por este Brasilão Imenso, muitas vezes fui “assaltado” pelas memórias de algumas excelentes disciplinas do Departamento de Solos da UFV, que cursei na pós-graduação. Há outras, mas aqui vão dois destaques para os interessados e curiosos: Gênese e Classificação de Solos, do Professor João Carlos Ker, e Pedogeomorfologia, do Professor Carlos Ernesto Schaefer.

Próximo da divisa de Minas com a Bahia, vi uma movimentação de solo que me chamou a atenção e a nostalgia. Tratava-se, aparentemente, de um material de Latossolo Amarelo, o antigo e legítimo “Latossolo Amarelo Variação Una”. Uma beleza só! Amarelíssimo. Em se usando aquela técnica do Professor Anôr Fiorine e equipe, para fabricação de tintas utilizando o solo como matéria prima, é possível fazer uma tinta muito bacana com aquele solo.

Lembrei-me, então, que na Disciplina do Professor João Ker, tive a oportunidade de conhecer um perfil de solo que já pertenceu a essa classe de Latossolos, “Variação Una”, lá em São Gotardo, MG. O perfil, embora não tão amarelo quanto o “Una Original”, faz parte do “Roteiro Pedológico” da Classificação de Solos, do DPS/UFV. Fica localizado próximo ao trevo, entre São Gotardo e a BR-354. Visitei-o por duas vezes, em 2004 e 2005. Eis o dito cujo:

Pelo SiBCS/2006, esse perfil agora é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo, com Horizonte A Moderado. Embora tenha influência de Tufito (material de cinzas vulcânicas comuns daquela área – o que também, por si só, não diz nada, pois há cinzas e cinzas), é um solo relativamente pobre do ponto de vista químico. É muito gibbsítico, rico em ferro, com alto poder de adsorção de fósforo. Mas do ponto de vista físico, estes são solos muito agricultáveis, portanto suportam aquela agricultura de ponta que existe naquela região. É uma região muito produtiva.

Aproveito para me lembrar de amigos e amigas que têm um ou dois pés lá em São Gotardo, como a Sibele – Esse povo mineiro é tudo gente boa! Em homenagem a eles e seus familiares são-gotardenses, ofereço “esta foto histórica” do tal Perfil de Solo, que registra a nossa passagem por lá. E, é claro, em homenagem aos colegas da turma de pós-graduandos de junho de 2004, da Disciplina do Professor João Ker: Marcão (nosso fotógrafo oficial na ocasião), Nilson, Edgley, Henrique, Juscimar (meu colega dos velhos tempos do Geófagos), Roberto Michel, Eliete, Helton Nonato, Karina, Diana, Leila, Aline, Ulisses Bremmer, Bruno Vasconcelos, Fábio e Evaldo.

Em verdade eu vos digo, nobres colegas, em tom de nostalgia e saudade, “esse charme brasileiro de alguém sozinho a cismar” (by Belchior), que nossa existência, posto que breve, se comparada ao largo hiato do tempo, permita-nos a consubstanciação, a realização dos reencontros... Até mais ver, teto sem forro / até mais ver, telha de barro / até mais ver, copo de folha / até mais ver, Sertão... (by Sá, Rodrix & Guarabyra).