terça-feira, 28 de julho de 2009

Ciclagem Biogeoquímica Nos Solos Tropicais (3)

Por Elton Valente

Nestes três textos (neste e nos dois abaixo) estamos fazendo algumas considerações pontuais sobre a Ciclagem Biogeoquímica nos trópicos. O assunto é complexo. Portanto estamos chamando a atenção apenas para alguns pontos, considerando algumas condições geralmente extremas, ou muito restritivas, dos ambientes tropicais. Depois do exposto nos textos anteriores, chamamos a atenção aqui para outro fato interessante.

A definição clássica e simplificada do solo diz que ele é o resultado da ação integrada do clima, dos organismos e do tempo, agindo sobre as rochas. Em outras palavras, o solo é a interface entre a litosfera (rochas), atmosfera e biosfera.

A evolução inicial do solo (sim, o solo evolui) se deu com a evolução dos vegetais e com a evolução dos organismos decompositores da matéria orgânica. Alguns autores consideram, inclusive, uma co-evolução entre algumas angiospermas (plantas cujas sementes se encontram no interior de frutos), organismos como os térmitas (cupins) e os Latossolos (típicos solos tropicais).

Mas as plantas foram (e são) fundamentais neste processo de “construção” dos solos. São elas que produzem a matéria orgânica que, no fim das contas, como já vimos, caracteriza uma “porção de terra” (ou substrato) como solo.

Em condições que vamos chamar aqui de “normais” (para simplificar), mesmo nos trópicos, os solos são fontes de nutrientes (provenientes da decomposição das rochas). As plantas absorvem tais nutrientes, sintetizam carbono (biomassa) e esse material “volta ao solo”(*), na forma de serrapilheira ou nos corpos de animais mortos dos vários níveis tróficos, para ser decomposto (mineralizado). Dá-se então o que chamamos de Ciclagem Biogeoquímica, pois é um processo que envolve o solo, as rochas e os organismos na ciclagem de nutrientes (substâncias químicas) na superfície terrestre.

Mas, quando se trata da natureza, nada é tão simples quanto parece – a lógica é simples, mas os processos são complexos. As condições ambientais nos trópicos, muitas vezes, são bastante estressantes e restritivas. Portanto, nestes ambientes, as plantas apresentam características adaptativas que permitem a elas contornar tais problemas. Em muitos casos, a Ciclagem Biogeoquímica é muito mais Bio do que Geo, como já apresentado nos dois textos anteriores. Ou seja, nestes casos, a “intimidade” das plantas com os solos não é tão estreita quanto se poderia imaginar.

(*)
Veja os dois posts abaixo.

2 comentários:

  1. Olá,Elton

    Você sabe que se farta(uma expressão daqui). Sabe mesmo. Mais do que isso,sabe expor,o que é importante,não só nos blogs,como em muita coisa,em aulas,em conversas descontraídas com amigos,em "papers",em palestras,eu sei lá. O Elton é polifacetado. A sorte que teve,pois podia não ter esse dom,podendo ter outro,pois tudo,dum certo ponto de vistasão dons que nascem com as pessoas,e seria injusto,senão tivessem,pelo menos,um.
    Deixando os dons,eu queria dizer alguma coisa do muito que li dos seus posts biogeoquímicos.
    É claro,que estou em desvantagem,em vários aspectos. O Elton tem a matéria fresca,é uma matéria tropical,quase chinês para mim,e eu,coitado de mim,agarrado a umas memórias antigas dum universo temperado,e não tropical.
    De resto,no meu antigo processo de tratar das cousas dossolos,não usava muita palavra,ou melhor,discutia os assuntos encostado a muita bibliografia,que a investigação sobre relações solo-planta,meu Deus(desculpe,é o hábito),enche prateleiras e prateleiras.
    Do que me lembro,parece vir a propósito o querer saber-se,por exemplo,qual a contribuição da matéria orgânica em N,para se usar menos adubo,ou seja determinar a taxa de mineralização da MO. Mas a MO não é só N,infelizmente para os analistas,mas felizmente para muita coisa,para os bichinhos,uma caterva deles,fungos,bactérias,eu sei lá,e ainda bem para as plantas,que o diga a floresta Amazónica,com a sua manta morta,ou viva,as micorrizas. Tudo isto a trabalhar,desgastando também a fase mineral,o que ali irá de solubilizações,quelatizações,brigas entre compostos diferentes,com as suas taxas de dissociação,com os seus produtos de soluilidade,com os seus potenciais de oxidação,para não falar de coisas mais complicadas do domínio da termodinâmica,que é,ao fim e ao cabo,para mal dos pecados de muita gente(desculpe lá outra vez,é o hábito),
    é o domínio onde se passa tudo,mas de que eu não percebo nadinha.
    E pronto,Elton,não sei mais nada. Com o que mostrou,e o que tem ainda por mostrar,podia fazer uns "papers" e mandá-los para uma das revistas brasileiras,como Ceres,Bragantia,Scientia Agricola(a continuação,como sabe,duns Anais),ou uma outra do género,que como o Locatelli,via Geoderma,mostrou são aos montes,chegando-seao exagero de grande parte dos "papers" de solos aparecerem em revistas não de solos,uma espécie de golbalização também na Ciência.
    Bem,Elton,a "carta"já vai muito longa,é tempo de acabar. Depois,tem um lugar à espera,um lugar onde o esperam alunos,que vão ter pela frente um Professor que sabe que se farta,que "sabe demais",extravasando.
    Muito boa saúde Elton,e que a estrada que vai percorrer seja de veludo,sem asperezas.

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  2. Prezado Manuel,

    Estou eu aqui, tentando entender um pouco daquilo que percebi em meus trabalhos. Muitas surpresas agradáveis. Muita satisfação por conseguir ver e tentar compreender coisas para as quais eu ainda não tinha me dado conta. E depois, tentando passar um pouco dessas informações para quem considerar que elas têm valor. Mas “sei que nada sei”. É como disse Jostein Gaarder, em “O Mundo de Sofia”, quanto mais se sobe na pelagem do coelho, mais o mundo se mostra complexo e imenso à nossa frente. É cuidar para não enlouquecer. É ter humildade para aceitar que somos alguns gramas de pó nesse Universo. E mesmo assim não perder o viço e se deslumbra diante do novo.

    Não, Prezado Manuel, não me farto, nem sou polifacetado. Acho que sou apenas um atrevido que se mete a dar opiniões em tudo.

    De qualquer forma, sou-lhe muito grato pela atenção, pelas considerações, pelos elogios. Acredite, gosto muito dessas nossas “cartas blogueiras”. Aprendo muito com sua sabedoria e com sua “leitura do mundo”. Aliás, deixei um abraço para Você e outro para o Locatelli lá no EdafoPedos, no último post dele, onde ele começa com o Drummond. Somos todos gratos a você por seu interesse nas coisas de cá, além, é claro, de você dar atenção ao que escrevemos.

    Se eu encontrar a Estrada de Veludo, vou me lembrar de Você com sentimentos de muita gratidão. E seu encontrar apenas Estradas de Pedras, vou me lembrar de que Você desejou que elas fossem de veludo, e lhe serei grato da mesma forma.

    Grande Manuel! Um forte e fraterno abraço. Muita saúde, muito paz e muito sucesso para você e todos os seus!

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