Por Elton Valente
Nota: Este texto foi publicado originalmente no blog Geófagos, em 17/12/2008. Sua republicação aqui tem o objetivo de fazer um “gancho” para o próximo texto, em que pretendemos tratar das relações entre o solo e a vegetação no Neotrópico.
Analisando alguns dados sobre as condições ambientais das partes elevadas da Serra do Cipó, na Cordilheira do Espinhaço, frutos de um estudo que trata das relações entre o solo e a vegetação naquele ambiente, surgiram algumas reflexões interessantes.
Naquele ecossistema, o gradiente de vegetação, de Campo Rupestre para Floresta, acompanha o gradiente de solo. A vegetação vai se tornando mais elevada e densa na medida em que o solo torna-se mais profundo. Os solos são todos ácidos, extremamente pobres quimicamente e ricos em alumínio trocável. Ali, a principal estratégia da vegetação, segundo algumas de nossas conclusões, é a ciclagem biogeoquímica. Mais Bio do que Geo, diga-se.
No entanto, a vegetação florestal é robusta. São disjunções de Floresta Ombrófila ocorrendo a mais de 1.200 metros de altitude. Não há evidências de desnutrição na fitomassa. Ocorrem indivíduos com até 30 metros de altura estimada e mais de 200 cm de circunferência de tronco. Isso revela, de acordo com nossas conclusões, uma alta eficiência dessas espécies em utilizar os poucos recursos disponíveis e, com eles, sintetizar altas taxas de carbono. Em outras palavras, estas espécies sintetizam muito carbono, na forma de fitomassa, com pouquíssimos recursos minerais. Isso me fez refletir sobre algumas questões, entre elas, o futuro da agricultura e os possíveis caminhos que podem ser percorridos pelas ciências agrícolas. Ciência do Solo e Fitotecnia, por exemplo.
Os maiores avanços obtidos na agricultura, desde que o homem (ou a mulher) domesticou algumas espécies, tiveram como foco a produtividade. No último século, esses avanços foram espantosos. Ao aliar o melhoramento genético com a modificação, ou ajuste, de ambientes antes negligenciados, como o Cerrado no Brasil, produziu-se uma verdadeira revolução nos modelos e processos de produção agrícola. O Brasil é um excelente exemplo disso.
Muitos entusiastas desse novo modelo de produção agrícola chegaram a dizer que a Teoria Malthusiana (Thomas Robert Malthus, 1766-1834) estava equivocada. Será? Algumas questões nesse enredo não são novas, mas como estão se tornando cada vez mais pertinentes, vale repetir pelo menos uma delas: Os sistemas agrícolas vão suportar a pressão do agronegócio por longo prazo?
E aqui podem entrar outras questões: Qual será o futuro da agricultura? Qual será a demanda para o Engenheiro Agrônomo e para a Ciência do Solo? Será que com nossa visão eminentemente mecanicista do mundo nós estaremos preparados para elas?
Em resumo, o modelo de agricultura do agronegócio promoveu a produtividade, sem se preocupar com as necessidades de consumo das culturas. Essas espécies (ou cultivares) necessitam de um ambiente "ajustado" às suas necessidades. Necessitam de altas doses de nutrientes para manter suas altas taxas de produtividade e fechar os seus ciclos produtivos com a eficiência desejada. Estas culturas apresentam ainda aquilo que nós chamamos de "consumo de luxo", em que o aumento na absorção do nutriente e sua concentração nos tecidos não são acompanhados por aumento no crescimento ou produção.
Por outro lado, as espécies nativas, em condições naturais, possuem alta eficiência na absorção de nutrientes (utilizam estratégias como associações simbióticas e exsudatos radiculares para "ajustar" a rizosfera); possuem alta eficiência na síntese de carboidratos sob condições adversas e apresentam menor demanda nutricional e, claro, menor produtividade quando comparadas às espécies "melhoradas".
E aqui entram algumas questões que me ocorreram: Qual é a taxa mínima de disponibilidade de nutrientes que estas espécies nativas conseguem suportar? Qual será o comportamento delas mediante uma melhora na CTC do substrato, aumento do pH do meio e um aumento nas doses de nutrientes disponíveis? Elas responderão positiva- ou negativamente a essas mudanças? Qual a importância dessa alta eficiência na utilização dos poucos recursos disponíveis, mediante a uma agricultura que promoveu a produtividade sem se importar muito com os impactos de modificações do meio (o solo), nem com as exigências nutricionais das culturas?
Utilizando o comportamento das espécies nativas como balizador, será possível, num futuro próximo, conciliar estes dois extremos? Ou seja, será possível desenvolver adaptações, ou modificações genéticas, nas espécies cultivadas para que elas forneçam produtividades economicamente viáveis, exigindo baixos teores de nutrientes e poucas alterações no substrato (o solo)?
Quem sabe não está aí uma importante e promissora linha de pesquisa para a próxima década?
Nota: Este texto foi publicado originalmente no blog Geófagos, em 17/12/2008. Sua republicação aqui tem o objetivo de fazer um “gancho” para o próximo texto, em que pretendemos tratar das relações entre o solo e a vegetação no Neotrópico.
Analisando alguns dados sobre as condições ambientais das partes elevadas da Serra do Cipó, na Cordilheira do Espinhaço, frutos de um estudo que trata das relações entre o solo e a vegetação naquele ambiente, surgiram algumas reflexões interessantes.
Naquele ecossistema, o gradiente de vegetação, de Campo Rupestre para Floresta, acompanha o gradiente de solo. A vegetação vai se tornando mais elevada e densa na medida em que o solo torna-se mais profundo. Os solos são todos ácidos, extremamente pobres quimicamente e ricos em alumínio trocável. Ali, a principal estratégia da vegetação, segundo algumas de nossas conclusões, é a ciclagem biogeoquímica. Mais Bio do que Geo, diga-se.
No entanto, a vegetação florestal é robusta. São disjunções de Floresta Ombrófila ocorrendo a mais de 1.200 metros de altitude. Não há evidências de desnutrição na fitomassa. Ocorrem indivíduos com até 30 metros de altura estimada e mais de 200 cm de circunferência de tronco. Isso revela, de acordo com nossas conclusões, uma alta eficiência dessas espécies em utilizar os poucos recursos disponíveis e, com eles, sintetizar altas taxas de carbono. Em outras palavras, estas espécies sintetizam muito carbono, na forma de fitomassa, com pouquíssimos recursos minerais. Isso me fez refletir sobre algumas questões, entre elas, o futuro da agricultura e os possíveis caminhos que podem ser percorridos pelas ciências agrícolas. Ciência do Solo e Fitotecnia, por exemplo.
Os maiores avanços obtidos na agricultura, desde que o homem (ou a mulher) domesticou algumas espécies, tiveram como foco a produtividade. No último século, esses avanços foram espantosos. Ao aliar o melhoramento genético com a modificação, ou ajuste, de ambientes antes negligenciados, como o Cerrado no Brasil, produziu-se uma verdadeira revolução nos modelos e processos de produção agrícola. O Brasil é um excelente exemplo disso.
Muitos entusiastas desse novo modelo de produção agrícola chegaram a dizer que a Teoria Malthusiana (Thomas Robert Malthus, 1766-1834) estava equivocada. Será? Algumas questões nesse enredo não são novas, mas como estão se tornando cada vez mais pertinentes, vale repetir pelo menos uma delas: Os sistemas agrícolas vão suportar a pressão do agronegócio por longo prazo?
E aqui podem entrar outras questões: Qual será o futuro da agricultura? Qual será a demanda para o Engenheiro Agrônomo e para a Ciência do Solo? Será que com nossa visão eminentemente mecanicista do mundo nós estaremos preparados para elas?
Em resumo, o modelo de agricultura do agronegócio promoveu a produtividade, sem se preocupar com as necessidades de consumo das culturas. Essas espécies (ou cultivares) necessitam de um ambiente "ajustado" às suas necessidades. Necessitam de altas doses de nutrientes para manter suas altas taxas de produtividade e fechar os seus ciclos produtivos com a eficiência desejada. Estas culturas apresentam ainda aquilo que nós chamamos de "consumo de luxo", em que o aumento na absorção do nutriente e sua concentração nos tecidos não são acompanhados por aumento no crescimento ou produção.
Por outro lado, as espécies nativas, em condições naturais, possuem alta eficiência na absorção de nutrientes (utilizam estratégias como associações simbióticas e exsudatos radiculares para "ajustar" a rizosfera); possuem alta eficiência na síntese de carboidratos sob condições adversas e apresentam menor demanda nutricional e, claro, menor produtividade quando comparadas às espécies "melhoradas".
E aqui entram algumas questões que me ocorreram: Qual é a taxa mínima de disponibilidade de nutrientes que estas espécies nativas conseguem suportar? Qual será o comportamento delas mediante uma melhora na CTC do substrato, aumento do pH do meio e um aumento nas doses de nutrientes disponíveis? Elas responderão positiva- ou negativamente a essas mudanças? Qual a importância dessa alta eficiência na utilização dos poucos recursos disponíveis, mediante a uma agricultura que promoveu a produtividade sem se importar muito com os impactos de modificações do meio (o solo), nem com as exigências nutricionais das culturas?
Utilizando o comportamento das espécies nativas como balizador, será possível, num futuro próximo, conciliar estes dois extremos? Ou seja, será possível desenvolver adaptações, ou modificações genéticas, nas espécies cultivadas para que elas forneçam produtividades economicamente viáveis, exigindo baixos teores de nutrientes e poucas alterações no substrato (o solo)?
Quem sabe não está aí uma importante e promissora linha de pesquisa para a próxima década?
Nenhum comentário:
Postar um comentário