Dia desses Lineu acordou cedo, era domingo e, como sempre fazia, passou a vista pelo jornal. Deteve-se nas matérias mais importantes. Depois deu uma olhadela no encarte dominical das crianças. Sempre havia ali uma historinha interessante. Desta vez havia um paradoxo para a criançada resolver. Dizia o texto: – Vovô sempre disse, e algumas crianças mais levadas já confirmaram a hipótese, que se um gato for jogado para cima ele sempre cai de pé. – Vovó afirma, e isso já aconteceu com a maioria das crianças, que a fatia de pão, com manteiga de um dos lados, sempre cai com o lado da manteiga virado para baixo. – Então o que acontece se uma fatia de pão, com manteiga, for amarrada às costas de um gato e essa dupla for jogada para cima? Parar no ar não vai, vovô e vovó afirmam que tudo o que sobe, desce.
Lineu achou graça da brincadeira. Funcionário público. Bem informado. Dado a conjecturas e proposições para solucionar os problemas da humanidade. Lineu ficou pensando na brincadeira. Ficou refletindo. Ficou imaginando o que poderia acontecer se naquele “experimento” o pão com a manteiga tivesse o mesmo peso do gato, em condições controladas e etc. Não quis admitir que o destino daquele conjunto insólito seria esborrachar-se no chão de qualquer maneira. Não! Ele queria prever, estatisticamente, em condições razoavelmente controladas, qual seria a situação de maior probabilidade de ocorrência. Ficou praticamente o dia todo tentando resolver mentalmente o “paradoxo”. À tardezinha, Lineu, já na meia idade e descuidado com os hábitos alimentares e dado ao sedentarismo, ainda tentando resolver o “paradoxo do gato”, teve um pequeno AVC e perdeu os sentidos.
Recebeu atendimento médico em tempo hábil. Mas só recobrou os sentidos quase dois dias depois no hospital. Sua esposa, D. Rosa, cochilava em uma cadeira. O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi o “paradoxo do gato”. Tentou afastá-lo temendo efeitos colaterais e chamou D. Rosa, que chamou a enfermeira e foi um alívio geral. Continuou internado em observação. O “paradoxo do gato” sempre voltava, mas Lineu se livrava dele. Recuperou-se bem, sem nenhuma sequela, e voltou para casa, sem saber as notícias do mundo. Sabedora de seus hábitos, D. Rosa foi logo lhe adiantando: “já que você está recuperado, graças a Deus, tem duas notícias bombando: Uma internacional, deram um golpe em Honduras. Outra nacional, parece que o problema da Presidência do Senado já foi resolvido. Os jornais estão todos lá na estante, como você gosta.”
Lineu saiu apressado, precisava inteirar-se de tudo. Queria deter-se na questão de Honduras, portanto foi direto aos resultados do Senado brasileiro. Ele não esperava que a coisa se desenrolasse exatamente e descaradamente como ocorreu, no vai e vem da “combatividade a serviço da governabilidade”. Mas, diante do histórico geral daquelas casas, admitiu que a solução foi digna dos “solucionadores”, embora, nas suas convicções de homem reto e bem informado, o Brasil saíra perdendo mais uma vez.
Daí passou direto para o caso de Honduras. Não acreditou. Os jornais diziam uma coisa, mas pareciam querer dizer outra. Lineu não estava entendendo. Ligou para Roberval, seu colega e amigo, com quem sempre discutia essas questões. Roberval confirmou tudo. Inclusive que os telejornais estavam dizendo a mesma coisa. Que o enredo era aquele mesmo. Que Obama, Hillary, CNN, ONU, OEA, ALBA, Hugo Chávez, estavam unidos, mesmo que isso pareça absurdo. E todos contra o governo interino. Roberval ainda sentenciou: “eu acho que foi golpe!” Lineu não podia acreditar. Foi consultar a internet. Os principais jornais. Todos com a mesma conversa. Em um deles, famoso, encontrou o seguinte parágrafo: “Zelaya foi derrubado do poder no último dia 28 em um golpe orquestrado pela justiça e pelo congresso e executado por militares, que o expulsaram para Costa Rica. O golpe foi realizado horas antes do início de uma consulta popular sobre uma reforma na Constituição que tinha sido declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.”
Lineu ficou intrigado. A redação diz uma coisa, Zelaya foi contra as decisões constitucionais do Parlamento, da Corte Suprema e das Forças Armadas. Portanto atentou contra a Constituição. Ou seja, tentou dar um golpe e por isso foi deposto. Mas o jornal está querendo dizer outra coisa, que Zelaya havia sofrido o golpe. E era exatamente isso o que a CNN, os jornais, Obama, Chávez, a mídia, todas as “autoridades” estavam dizendo.
Lineu achou graça da brincadeira. Funcionário público. Bem informado. Dado a conjecturas e proposições para solucionar os problemas da humanidade. Lineu ficou pensando na brincadeira. Ficou refletindo. Ficou imaginando o que poderia acontecer se naquele “experimento” o pão com a manteiga tivesse o mesmo peso do gato, em condições controladas e etc. Não quis admitir que o destino daquele conjunto insólito seria esborrachar-se no chão de qualquer maneira. Não! Ele queria prever, estatisticamente, em condições razoavelmente controladas, qual seria a situação de maior probabilidade de ocorrência. Ficou praticamente o dia todo tentando resolver mentalmente o “paradoxo”. À tardezinha, Lineu, já na meia idade e descuidado com os hábitos alimentares e dado ao sedentarismo, ainda tentando resolver o “paradoxo do gato”, teve um pequeno AVC e perdeu os sentidos.
Recebeu atendimento médico em tempo hábil. Mas só recobrou os sentidos quase dois dias depois no hospital. Sua esposa, D. Rosa, cochilava em uma cadeira. O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi o “paradoxo do gato”. Tentou afastá-lo temendo efeitos colaterais e chamou D. Rosa, que chamou a enfermeira e foi um alívio geral. Continuou internado em observação. O “paradoxo do gato” sempre voltava, mas Lineu se livrava dele. Recuperou-se bem, sem nenhuma sequela, e voltou para casa, sem saber as notícias do mundo. Sabedora de seus hábitos, D. Rosa foi logo lhe adiantando: “já que você está recuperado, graças a Deus, tem duas notícias bombando: Uma internacional, deram um golpe em Honduras. Outra nacional, parece que o problema da Presidência do Senado já foi resolvido. Os jornais estão todos lá na estante, como você gosta.”
Lineu saiu apressado, precisava inteirar-se de tudo. Queria deter-se na questão de Honduras, portanto foi direto aos resultados do Senado brasileiro. Ele não esperava que a coisa se desenrolasse exatamente e descaradamente como ocorreu, no vai e vem da “combatividade a serviço da governabilidade”. Mas, diante do histórico geral daquelas casas, admitiu que a solução foi digna dos “solucionadores”, embora, nas suas convicções de homem reto e bem informado, o Brasil saíra perdendo mais uma vez.
Daí passou direto para o caso de Honduras. Não acreditou. Os jornais diziam uma coisa, mas pareciam querer dizer outra. Lineu não estava entendendo. Ligou para Roberval, seu colega e amigo, com quem sempre discutia essas questões. Roberval confirmou tudo. Inclusive que os telejornais estavam dizendo a mesma coisa. Que o enredo era aquele mesmo. Que Obama, Hillary, CNN, ONU, OEA, ALBA, Hugo Chávez, estavam unidos, mesmo que isso pareça absurdo. E todos contra o governo interino. Roberval ainda sentenciou: “eu acho que foi golpe!” Lineu não podia acreditar. Foi consultar a internet. Os principais jornais. Todos com a mesma conversa. Em um deles, famoso, encontrou o seguinte parágrafo: “Zelaya foi derrubado do poder no último dia 28 em um golpe orquestrado pela justiça e pelo congresso e executado por militares, que o expulsaram para Costa Rica. O golpe foi realizado horas antes do início de uma consulta popular sobre uma reforma na Constituição que tinha sido declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.”
Lineu ficou intrigado. A redação diz uma coisa, Zelaya foi contra as decisões constitucionais do Parlamento, da Corte Suprema e das Forças Armadas. Portanto atentou contra a Constituição. Ou seja, tentou dar um golpe e por isso foi deposto. Mas o jornal está querendo dizer outra coisa, que Zelaya havia sofrido o golpe. E era exatamente isso o que a CNN, os jornais, Obama, Chávez, a mídia, todas as “autoridades” estavam dizendo.
Lineu assustou-se, não teve dúvidas, estava diante de um “novo paradoxo”, muito mais complicado de resolver. Temendo por sua saúde, não quis saber mais do assunto.
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