Por Elton Valente
As espécies arbóreas das formações florestais da Serra do Cipó, em geral, são de ampla distribuição geográfica neotropical e, em um aparente paradoxo, co-existem com uma considerável variedade de espécies endêmicas dos Campos Rupestres.
A gênese desses ambientes, e de qualquer outro, é o resultado de um processo dinâmico onde cada elemento do sistema, seja ele biológico ou não, responde de acordo com suas potencialidades, constituição e limitações. Esta resposta se dá positiva- ou negativamente em função de diversos fatores, como por exemplo, localização geográfica, solo e clima.
A Cadeia do Espinhaço, cuja formação remonta ao Proterozóico Médio, com cerca de 1,8 bilhão de anos, já experimentou flutuações climáticas diversas, desde glaciais até a semi-aridez. Os elementos biológicos, principalmente a vegetação que ali se desenvolveu e ainda se desenvolve, colonizaram aquela área ajustando-se a tais flutuações climáticas e outras mudanças do meio físico, como processos geotectônicos e erosivos que o sistema experimentou ao longo desse tempo geológico. Portanto, o que se tem hoje naquele ambiente, ou em qualquer outro, é o resultado momentâneo de um processo longo e dinâmico que ainda não cessou.
Em regiões como a Cadeia do Espinhaço, fatores relativos ao relevo estrutural concorrem para o isolamento biogeográfico de tais áreas. A vegetação, de acordo com as potencialidades e limitações de cada gênero, espécie ou indivíduo, responde de forma diferenciada às condições quase sempre estressantes do meio.
Algumas espécies herbáceas apresentam pouca capacidade de dispersão ampla de propágulos (sementes). Por outro lado, são grupos de plantas muito resistentes a elementos estressantes, como o fogo, o vento e a seca. Apresentam individualmente, portanto e em geral, baixa biomassa e ciclos curtos. São menos exigentes às condições do meio e não apresentam tendência ao desaparecimento sob pressões negativas. Se as condições estruturais da área concorrem para isolar determinadas comunidades, ou grupos de indivíduos, estes tendem à especiação (formação de novas espécies). A especiação neste caso pode se dar, não raro, em ambientes muito próximos. Situação muito comum no Espinhaço Meridional.
As espécies arbóreas, de ciclos longos e elevada biomassa, em relação às herbáceas, são naturalmente mais exigentes em determinadas condições do meio. Mas por outro lado, podem apresentar grande facilidade na sua distribuição. Sob condições desfavoráveis, elas tendem a desaparecer e, uma vez que as condições do meio voltam a ficar favoráveis, elas retornam, devido à sua ampla capacidade de dispersão. Há, portanto, uma reentrada de propágulos (sementes), seja pela ação da fauna de mamíferos e aves, seja pelo vento ou outro fator qualquer. Isso implica, conseqüentemente, em fluxo gênico. Daí a baixa probabilidade da ocorrência de espécies arbóreas endêmicas nestes locais, mesmo que estas convivam, em áreas muito próximas, com endemismos nas espécies herbáceas, como é o caso da Cadeia do Espinhaço.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Endemismo na Serra do Cipó: pra não dizer que não falei das flores
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E todo esse processo intensamente dinâmico não lembra um pouco outra dinâmica, a social, "onde cada elemento do sistema [...] responde de acordo com suas potencialidades, constituição e limitações"?
ResponderExcluirVc não falou só das flores...