sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Questões ambientais, besteirol e o império do faz-de-conta

Assisti recentemente a uma reunião promovida por uma concessionária de serviços públicos, tratando de questões ambientais relativas ao abastecimento de água, cujo objetivo último era convencer a comunidade local sobre a urgência de cuidados com a água e a estruturação de um Comitê Local de Gestão para tais atividades. As concessionárias desta categoria têm, por obrigação legal, de tratar e cuidar destes assuntos. Não estão fazendo isso porque são “boazinhas”, mas porque a Lei assim o exige.

Por sua vez, a lei assim o exige porque o estado é pressionado pela nova ordem das coisas, ou novos paradigmas, como queiram. E esta nova ordem das coisas é pautada pela sociedade. Cada tempo na história humana tem seus próprios paradigmas, suas próprias exigências sociais. Nesta fase da civilização, as exigências prementes são as questões ambientais, aclamadas pelos quatro cantos do mundo. Portanto, o Estado, político por excelência, tem de seguir o compasso da valsa, senão corre-se o risco das rupturas.

Acontece que ainda não temos um nível de investimento em Educação suficiente para formar uma massa crítica, necessária em qualquer comunidade bem desenvolvida, para cobrar, “fiscalizar”, exigir que o poder público instituído cumpra bem o seu papel – leiam o livro “A Cabeça do Brasileiro”, de Alberto Carlos Almeida, está tudo lá. E o que vemos é um círculo, para não dizer um circo, de faz-de-conta.

A tal palestra foi realizada nas dependências de uma instituição educativa, da área agrossilvipastoril. Nada mais adequado. Além disso, o evento contava e conta com o total e apropriado apoio da tal instituição. Estavam presentes diversos segmentos da sociedade, desde o Poder Judiciário (com a presença do próprio Juiz da Comarca) até as Comunidades Rurais envolvidas. Todos de uma cidade pequena do interior. Havia ali, portanto, em função destas contingências e desses participantes, uma excelente oportunidade para se prestar um bom serviço. Mas, tristemente, o que se viu foi o oposto.

O palestrante, repleto de “boa vontade” era despreparado para aquilo que evento exigia. Exigia-se ali, para ocupar aquele púlpito, naquela ocasião, alguém que dominasse o assunto, com um bom poder de argumentação e convencimento, porque a ocasião era muito oportuna. Mas o palestrante não correspondia, minimamente, a esses requisitos.

Ele perdeu-se em argumentações vazias, sem dados técnicos confiáveis. Enveredou-se por metáforas pobres, usou uma ficção enviesada e absurda sobre um futuro próximo, com a humanidade transformada em monstrengos pela desidratação, com catástrofes onde se misturaram ficção grotesca, misticismo e drama pastelão. Fatos estes que, supostamente, vão ocorrer no final da próxima década, em virtude da, então, virtual falta de água. Um absurdo completo.

Primeiro, ele deu início às suas atividades com meia hora de atraso (atrasos desta natureza e duração eu considero, no mínimo, falta de respeito). O evento durou aproximadamente três horas, terminando para além das 22:00, em uma cidade do interior, onde os costumes são outros.

Mas a conclusão final da coisa, ou o resumo da ópera, é que ficou explicitado o fato de que a tal concessionária estava fingindo que cumpria o seu papel, pois não havia ali, na forma como o evento foi gerido, um mínimo de preocupação com a questão central tratada, que é muito séria: a gestão dos recursos hídricos com todas as sua implicações.

Como corolário, explicitou-se também, naquele evento, que o Estado está fingindo que cobra das concessionárias públicas o cumprimento da lei, maquiando o seu dever não cumprido, diante das exigências sociais urgentes.

E o mais triste de tudo é que o público presente, na grande maioria, não tinha um nível de informação suficiente para detectar aquele engodo. Excetuando-se as poucas pessoas vinculadas à instituição escolhida para sediar o evento.

Para não dizer que tudo foi perdido, em um determinado momento o palestrante foi feliz em uma de suas colocações, quando se referiu ao fato de que “aquilo que ele tentava fazer ali” não era uma conscientização porque, segundo ele, todos nós temos consciência do que é certo ou errado, e ele preferia dizer que tentava ali sensibilizar as pessoas para o problema, suas implicações e suas virtuais medidas de controle e, para isso, ele acreditava que o melhor caminho é o da Educação.

Mas seu discurso perdeu-se no vazio, pois o real motivo de sua presença ali era, sem a menor sombra de dúvida, o de assumir o picadeiro de um circo de faz-de-conta, cuja praça de apresentação não é “privilégio” só das comunidades carentes do interior, e sim do Brasil todo, do Mundo inteiro, de comunidades ricas e pobres, sem exceção. Pois, em média, a massa verdadeiramente preparada, com conhecimento de causa, apta a dar direcionamento racional, objetivo e ético a essas questões, é muito pequena, e fica diluída neste mar de hipocrisia em que se tornou o debate sócio-político-ambiental dos novos tempos.

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