quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pesquisadores jovens e velhos, cidadãos jovens e velhos: uma digressão


Fontes: imagem 1; imagem 2

Por Elton Valente

Sou, por assim dizer, “um pesquisador em início de carreira”. Demorei um pouco para retornar à Academia e, dependendo do critério que se use, não pertenço mais à categoria dos jovens. Trago, portanto, pelo menos um pouco dessa “experiência empírica” da vida e do exercício profissional – tenho alguns anos de exercício na condição de professor e de engenheiro agrônomo, principalmente em extensão rural – mas estou começando minha vida como pesquisador e retornando ao exercício da docência, agora em uma instituição federal de nível técnico e superior.

Creio que esse conjunto me habilita a emitir meus “centavos de opinião” nesta seara, ainda que pesem em minhas opiniões a tal “mediocridade”, a “opinião amadorística” e, principalmente, nossa ignorância. Como dizia o Professor Mauro Resende do DPS/UFV, a ignorância é intrínseca ao humano.

Os “velhos” geralmente levam alguma vantagem sobre os jovens no entendimento da vida, em função, por exemplo, de terem “esbarrado” com os mesmos conceitos diversas vezes e, portanto, terem avaliado tais “conceitos” em ocasiões e contextos distintos. Ou seja, levam vantagem pela oportunidade que tiveram de agregar novas informações aos mesmos “conceitos”, e daí tirar novas conclusões, talvez mais precisas. Podemos chamar a isso de “experiência de vida”, ou, em muitos casos, poderíamos chamar também de Maturidade e Sabedoria. Não quero dizer com isso que todos os velhos são sábios. Mas estas últimas, Maturidade e Sabedoria, deveriam ser sempre lembradas no trato com pessoas menos jovens do que nós.

Abrindo parênteses, o bom professor necessita de estar atento a este fato, o da “oportunidade de agregar novas informações aos conceitos”. É preciso ser ponderado na hora de cobrar “conceitos” dos alunos, principalmente nas avaliações. Aí, o que está certo, errado ou incompleto, geralmente é relativo e depende do nível de informações que cada um detém.

Mas, voltando ao que proponho, a relação entre jovens e velhos e as habilidades de cruzar informações e atribuir os devidos valores às coisas. Estas últimas são fundamentais em qualquer atividade a que nos aventuramos na vida.

Entre os primeiros grandes erros que podemos cometer encontram-se a arrogância e a pretensão. E é preciso que sejamos honestos com nós mesmos e com os outros. A intuição ungida na humildade é fundamental na leitura do mundo e das coisas, na capacidade de atentar-se às partes, aos detalhes, sem perder a noção do todo, ponderando o valor das coisas. E assim vamos reduzindo as chances ou probabilidades de se cometer erros, ou pelo menos ponderando o valor dos erros cometidos. Isto vale tanto para nossas atividades profissionais quanto para a vida e para a convivência entre as pessoas.

Todos nós, sem exceção, cometemos erros ao longo dessa experiência empírica que é viver. A diferença está na forma de lidar com eles, nos desdobramentos e no comportamento pós-erro. Os mais experientes tentam amenizar os “estragos” e reconduzir o processo ao curso natural das coisas. Outros (muitos) cometem novos erros na tentativa de solucionar os erros anteriores, radicalizando quando deveriam ser ponderados, calando-se quando deveriam falar, omitindo-se quando deveriam se manifestar.

Às vezes perdemos grandes chances, grandes oportunidades, grandes parcerias, ou até mesmo grandes amigos, pela falta de tato com a vida, pela falta de humildade, ou pelo excesso de arrogância, pretensão e orgulho e por cultivar nossos próprios dogmas enquanto criticamos os dogmas alheios.

E assim, em virtude das diversas circunstâncias já citadas, os mais “experimentados” geralmente percebem melhor a correlação de valores das coisas, compartimentalizando-as, sem perder a noção do conjunto. Sem perder a noção do real valor das coisas, daquilo que realmente importa. Isto é válido para qualquer atividade humana em seu particular, mas principalmente para o Exercício da Vida no conjunto. Pois a vida é muitíssimo curta e cheia de surpresas. E a curva do futuro nós temos de pavimentar hoje, é a única oportunidade que temos, pois em muitos casos “a fatura” do que fazemos hoje nos será cobrada lá na frente, quando não dá mais para nos justificar e reorganizar a ordem das coisas.

2 comentários:

  1. Caro Elton

    Gostei de o reler,Elton,o Elton da Serra do Cipó,o Elton da peregrinação,talvez interior,quem sabe?. Esse seu "retiro" teria completado a acção de outros "retiros",que o avançar dos anos,e das inerentes experiências,vão permitindo. Vamos perdendo, a pouco e pouco,as certezas,as seguranças,o "eu sei tudo",e ganhando um outro saber,que é "o saber que nada sei". Ele,até,nem nos conhecemos,nem damos conta do que somos capazes,de "mal" ou de "bem", descendo às profundezas,ou subindo aos píncaros.
    A propósito de saber,lembra-me um Professor,com
    letra muito grande,que confessava ser um tormento uma aula que desse. É que,entretanto,a Ciência não parara,e ele podia ter estado a ensinar o ontem.
    E a propósito,Senhor Professor,faço votos para que retome, em muito boa hora, o exercício de docência,desta vez,conjugado com o de pesquisador,o que valorizará as duas funções.
    Aproveito a oportunidade para que agradeça, por mim, ao Fernando Brasil, o ele ter-me levado às Histórias do Brasil,através das Caravelas,e,já agora,o ele ter-me incluído "nessa gente boa". E dizer-lhe que apreciei o seu "poeminha". Sobre ele,é de lembrar que a história do homem é muito velha,e que ela está sempre a repetir-se,como escreveu Eça. Isto,para dizer que os portugueses não foram os primeiros a sair do "Tejo",pois mais não fizeram do que muitos outros tinham feito por outros cantos deste mundo que não há meio de ser "totalnente descoberto".
    E pronto,Elton,mais uma vez lhe desejo todos os sucessos nessa nova,e promissora vida,de professor e de investigador.
    Um abraço,e muito boa saúde.

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  2. Prezado Manuel,

    Grande honra e grande satisfação em tê-lo aqui conosco. Digo mais, sempre aprendemos com sua sabedoria, com suas várias leituras do que escrevemos. Isso engrandece e enriquece nossos escritos e a nós mesmos, por isso lhe somos muito gratos e nos sentimos honrados com sua atenção.

    E você ainda nos remete ao grande Eça. Sábio Eça de Queiroz. Quanta falta ele faz nesses tempos de histórias novas, mas com cara de muito velhas, principalmente nesse nosso Brasil.

    O Fernando Brasil agradece, emocionado, os seus elogios e diz que você É ESSA GENTE BOA.

    Nesse aspecto, servimo-nos da oportunidade para lhe dizer, referendando a Grandeza da Ibéria, que concordamos com Fernando Pessoa, quando ele diz “E ao imenso e possível oceano / Ensinam estas Quinas, que aqui vês, / Que o mar com fim será grego ou romano: / O mar sem fim é português.”

    É isso, Prezado Manuel,

    Com votos de muita saúde e muito sucesso, receba os abraços fraternos e os agradecimentos destes seus admiradores destas bandas de cá do oceano!

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